segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Os betos

Os betos sempre foram uma raça que me causaram estranheza, pela sua arrogância, leviandade e pretensão de elegância, contraditória com a má-educação de que são exemplo, na maioria dos casos. São novos ricos, velhos ricos, faz-de-conta que são ricos, que se acham de boas famílias e de (uma quase) aristocracia, quando se calhar desconhecem que esta, em Portugal, está quase toda morta e são tão burgueses como o resto da maioria do povinho. Na verdade, acho que hoje em dia, o que os une não é o dinheiro, a profissão, a educação ou a cultura, mas simplesmente essa mesma pretensão identificável em todos eles e entre eles.
Os betos têm um vocabulário próprio, uma cozinha própria e um modo de se vestir próprio. Eles utilizam expressões como "um máximo", "giríssima", "é fantástica" ou "ficou ótima" e usam e abusam de anglicismos, mesmo quando os termos são praticamente iguais em português. As betas ligados à moda são as piores porque rara é a palavra que se esquiva à tradução para inglês e disparam frases como: Os dégradés, nesta altura do ano, estão démodé, enquanto os prints estão super in e dão um ar cool e servem para compôr tanto um look casual chic ou um street style, consoante os apontamentos e que além disso enriquecem bastante o nosso closet, que, a um português comum, só dá vontade de bradar aos céus. Além disso inventam nomes de cores como se não houvesse amanhã, como a beringela, a terracota, a paprika ou o burgundy e têm profissões como hair stylist ou personal shopper, o que na prática significa que vivem às custas do marido. E em toda a santa estação lá andam elas aos pulinhos e a dar ao rabo para espreitar as novas tendências.
Todas as betas são seguidas por nutricionistas, o Póvoas ou o Tallon, usam trinta cremes para o cabelo, corpo, mãos, unhas e, se for inventado, até para as pestanas elas compram e que recomendam religiosamente, tal e qual como as drenagens linfáticas, exfoliações de rosto e massagens, que fazem pelo menos uma vez por semana, para ficar com uma pele ótima. Em regra, andam sempre maquilhadas, mesmo que acordem às 5 da manhã, e de saltos, porque alonga imenso a linha da perna e dá um ar muito mais elegante, e mesmo que não sejam adeptas de peças clássicas, o seu trash look é criteriosamente pensado, nunca sendo vistas com uma singela t-shirt e calças de ganga, perdão, jeans, porque isso dá um péssimo aspecto.
Na culinária, os betos destacam-se novamente do Zé povinho, pois comem scones, cupcakes e brioches* em brunchs. Adoram comida orgânica, biológica, gourmet e, claro, obviamente tudo o que é light, porque é rara a beta gorda e que enfarde uma francesinha! Frequentam sítios como casas de chá e todo e qualquer restaurante japonês, ensandecidos com o sushi como se aquilo fosse a melhor coisinha que Deus criou na Terra.
As amigas das betas são umas xuxus, umas queridas e chamam-se Bárbaras - as Bás-, Beneditas - as Bés- ou Madalenas - as Madas(?). Os filhos são os Antónios Marias, os Manueis e os Bernardos, porque agora, infelizmente, tudo o que é povo também se lembrou de chamar os filhos de Tomás, Martim ou Rodrigo, o que é um horror, porque se estão a tornar super vulgares.
E este tipo de gente passa os fins-de-semana em inaugurações, festas ou desfiles, para os quais são naturalmente convidados, ou no clube de golfe do marido, enquanto os miúdos ficam em casa da avó Carlota, uma velhinha por norma muito pomposa, ou num workshop fantástico, que é sempre uma ótima iniciativa de uma empresa qualquer. São fotografados para a revista Caras, quando ninguém sabe quem eles são e as esposas-betas, se não têm uma das profissões supra-citadas, são descritas geralmente como empresárias, RPs ou largaram um carreira de sucesso para tomar conta dos miúdos e criaram recentemente um blogue também ele de sucesso (porque tudo na vida deles é de sucesso, até o seu cocó deve ser de sucesso), com todas as suas espectaculares dicas de moda ou histórias das maravilhas da maternidade.
Haja paciência!



* Definição de brioche pela Desciclopédia: Brioche é pão. Nada mais, nada menos que pão, só que com nome afrescalhado para que você que só come pão pensar que é um pobre coitado.

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