O meu luto não tem sido fácil. Nesse sentido e apesar de mais solitário, o X tem vivido a tua perda desde o início de uma forma muita mais real. Eu não. Quando ele me contou, em lágrimas, fiquei em choque. Assim como estive no raio da missa que não querias, mas que o padre insistiu em dar (deixa lá). Tenho chorado pouco. Muito pouco para a dor que sinto, quando me deixo senti-la. E em pouco me alivia. Porque, na verdade, a maior parte do tempo continuo a achar isto irreal e a distanciar-me e a merda da ficha não me cai. Estás vivo em mim, no X, em todos nós e onde quer que vá, aqui no mundo virtual, tu estás também.
A distância também é uma armadilha para mim, que quase me faz acreditar que isto foi uma espécie de pesadelo (daqueles 'à la carte') que ficou encapsulado lá em cima, o que faz isto ainda mais irreal.
O X está a sofrer muito, acredita. Seja por ele, pela distância, pela loucura de continuar a sentir-te tão presente, sinto-me apática a maior parte dos dias. Consigo rir-me quando vejo os nossos momentos Autobonga, mas pouco consigo chorar. Tenho um medo terrível de voltar lá acima e de sentir a quebra de não te ver, de não poder falar contigo e deparar-me com a realidade que não estás presente e que toda a presença que sinto de ti é só imaginação?/desejo? meu. Na minha cabeça coabitam partes de mim fragmentadas desde o dia em que soube que tinhas ido preparar a nossa penthouse, há uma, pequenina, que na realidade desde o início aceitou e compreendeu que merecias mais e que esta dor já não fazia sentido, mas há outras, por exemplo, muito mais fortes, que ficam muito chateadas contigo por me teres deixado, por não envelheceres comigo, por não ficares para conheceres os meus filhos e não partilhares o resto das alegrias (e tristezas) da minha vida.
Acredito do fundo do coração que esperaste para te despedires de nós. De uma forma consciente ou inconsciente, seja porque desististe (e eu juro que te percebo, se esse foi o caso) ou porque ficaste em paz. O X ficou chateado comigo quando lhe disse isto...mas ainda assim, e não sendo a pessoa mais entendida nestas coisas de "espiritualidade" (?) (se é que isto é uma coisa?!e/ou se é que há gente entendida nisto), acredito mesmo que esperaste por nós. Fomos todos lá te ver. E foi tão bom! Obrigada por isso! Já não te via há meses e algo no fundinho de mim dizia-me que podia não te ver mais...infelizmente... Ainda bem que o fiz! Apesar de ter visto tão débil e a sofrer, mas ainda assim na maior, como sempre aliás, consegui guardar mais esse bocadinho de ti e dar-te um bocadinho mais de carinho...
Desculpa-me. Desculpa-me se às vezes não soube lidar com a tua doença. Desculpa-me se às vezes me afastei e fui dura contigo. Não foi por mal. Mas sei que fui egoísta, tentei-me proteger e tentei acreditar quando me dizias que estava tudo bem. Ao mesmo tempo que todos sabíamos que não estavas, todos acreditávamos em ti. Caramba, tu és a Gerência, tu sabes o que fazes!...
...
(Escrevi isto há quase um mês e não fui capaz de concluir e /ou publicar.
Continuo a atirar isto para o fundo da gaveta e continuo a não acreditar...quase que me recuso...tenho saudades tuas, foda-se!...)
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(Escrevi isto há quase um mês e não fui capaz de concluir e /ou publicar.
Continuo a atirar isto para o fundo da gaveta e continuo a não acreditar...quase que me recuso...tenho saudades tuas, foda-se!...)